Eduardo Sanches é do Mato Grosso, há 15 anos mora em Jaraguá do Sul. Além de trabalhar oito horas por dia, ainda se dedica em busca de uma vaga para a Paraolimpíada de Tóquio.
Olá Sanches, o objetivo desta coluna é bater um papo com pessoas que fazem a diferença na vida de outras pessoas, ou que tiveram grandes superações na vida. Conheço você há algum tempo. Como também pedalo sempre me chamou a atenção o teu desempenho no pedal, principalmente por essa questão de você não ter o braço esquerdo. E isso, pelo que percebo, nunca foi um problema para você, sendo que você pedala muito bem e é um caso excepcional de superação.
Sandro Ferrari – Como você perdeu o braço esquerdo?
Eduardo Sanches – Eu tinha 11 anos, estava em uma festa de Páscoa na cidade de Rio Negrinho – SC, onde morava na época. Estava brincando em um parquinho com meus primos, quando um carro invadiu o local e me atropelou. Depois, mais tarde, no hospital meu braço foi amputado.
SF – Quando você se viu sem o braço esquerdo aos 11 anos o que sentiu?
ES – Na hora soube que muitas coisas eu não poderia mais fazer. Uma delas era servir a Marinha, meu sonho de infância. Fiquei um tempo muito deprimido com a situação, na época, fiz tratamento psicológico, mas depois decidi ir em frente, pois eu ainda tinha outro braço minhas pernas e a vontade de viver.
SF – Quando entrou o ciclismo na sua vida?
ES – O ciclismo entrou de forma natural em minha vida. Eu pedalava com os amigos já após dois anos do acidente. Adaptei-me muito rápido. Com 13 anos participei da minha primeira competição de Mountain Bike. Fiquei em vigésimo lugar de cerca de 40 meninos competindo. Isso me motivou, pois eu só com um braço cheguei à frente de muitos outros competidores. Depois, iniciei as participações em campeonatos Catarinense e comecei a “pegar pódio”. Cada vez mais, o ciclismo começou a fazer mais parte de minha vida.
SF – Quando e qual foi a sua competição mais importante?
ES – Foi em 2013 eu participei da Copa Brasil de Paraciclismo na versão Speed, que é uma categoria de estrada. Na colocação geral eu fiquei em terceiro lugar. Senti-me muito feliz por ter participado desta competição, nesta época eu estava treinado para conseguir uma boa colocação para uma vaga para Paraolimpíada.
SF – E hoje como, estão os treinos e o que você pretende com o ciclismo?
ES – Estou treinando muito, média de quatro horas todos os dias. Treino com Roberval Pillati em Jaraguá do Sul, objetivando alcançar uma boa colocação no Campeonato Brasileiro para conseguir uma vaga para a Paraolimpíada de Tóquio. Além disso, complemento os treinos na academia, onde faço trabalho localizado para fortalecer a musculatura.
SF – Hoje nas competições, você tem algum patrocino? Como está essa questão?
ES – Sou patrocinado pela Soul Cycles, que forneceu as minhas duas Bikes: Mountain Bike e Speed. Também recebo ajuda da Over Bike Center de Jaraguá do Sul e BPM Personal que é a academia do Roberval Pillati. Aproveito a oportunidade, caso algum empresário queira investir no esporte e se familiarizou com meu projeto será bem-vindo. Meu maior sonho é viver do esporte para treinar com foco para chegar à Paraolimpíada e desta forma me dedicar de forma integral ao ciclismo.
SF – Eduardo Sanches, hoje, o que te inspira?
ES – Eu conheço algumas pessoas que foram para a Olimpíada e eles me falaram que o momento que toca o Hino Nacional Brasileiro é algo muito emocionante. Eu treino muito para conseguir minha colocação. Isso me inspira, pois meu maior sonho é competir em uma Olimpíada. Uma pessoa que me inspira é o Ricardo Ramthum, ele também competia profissionalmente, trabalhava oito horas por dia e depois do expediente executava os treinos, se tornou campeão brasileiro, provando que com dedicação tudo é possível.
SF – Sanches, você perdeu o seu braço esquerdo quando criança e superou essa questão. Hoje trabalha e nos horários de folga dedica seu tempo para treinos. Participa de competições nos finais de semana. Eu considero sua história uma grande superação. Qual a mensagem que você deixa para o leitor em relação a essa questão de superação?
ES – Existem muitos deficientes por aí, eu não fico esperando que alguém me ajude. Claro que as ajudas sempre são bem vindas e sou grato por isso. Penso que a deficiência está na cabeça das pessoas e não no corpo, pois se uma pessoa tem uma limitação e aceita, ela será limitada. Agora se a limitação for somente algo que aconteceu que tem que ser superado, será somente uma questão a superar. Eu superei minha limitação há muito tempo. Hoje sou grato por todas as portas que o ciclismo está me abrindo. E se você acha que tem um problema em sua vida, sugiro que pare e pense se realmente é um problema, pois eu ouço muitas pessoas reclamando da vida, onde estas pessoas, em minha opinião, deveriam ser gratas pela vida que tem. E também Sandro Ferrari sou muito grato a você pela oportunidade de eu estar expondo meu projeto aqui na sua coluna.
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